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Ney Moura Teles

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Por que não apoiar Iris Rezende

     Em 1982, o PMDB goiano escolhia Iris Rezende, 50 anos, ex-vereador, ex-deputado estadual e ex-prefeito de Goiânia cassado pela ditadura, candidato a Governador, na primeira eleição direta após o tempo de governadores nomeados.

     Vinte e oito anos depois, no mesmo PMDB de Goiás, o mesmo Iris Rezende, agora com quase 80 anos, ex-Senador, ex-Governador duas vezes, ex-Ministro de Sarney e de FHC, candidato a Governador derrotado em 1998, derrotado também para o Senado em 2002, e que renunciou, em março último, a quase três anos do mandato de Prefeito de Goiânia, para o qual fora eleito em 2004, reeleito em 2008, é, novamente, candidato ao governo.

     Entre as duas datas, nessas três décadas, uma constatação: sucessor do MDB, o PMDB de Goiás deixou de ser o partido que se fez democrático no combate à ditadura militar para se transformar em instrumento para a satisfação dos interesses pessoais de um único político, Iris Rezende.

     Dizendo-se, desde sempre, enviado por Deus com a missão de trabalhar por Goiás e por seu povo, Iris foi, ao longo do tempo, moldando o PMDB segundo sua vontade e seus objetivos pessoais, favorecendo meia dúzia de apaniguados, que lhe prestam continência sempre, subjugando os subjugáveis na sua subserviência, eliminando ou afastando os que poderiam brilhar mais do que ele e, sobretudo, ludibriando a grande maioria dos partidários de boa-fé.

     Governador em 83/86, quando não havia reeleição, engoliu a candidatura de Henrique Santillo, mas voltou a se candidatar em 90, com Maguito na vice, que depois foi imposto como candidato à sua sucessão, em 94, contra a vontade das bases do partido, que preferiam Naphtali Alves, compelido a aceitar ser vice. Em 98, introduzida a reeleição, Maguito foi impedido de disputá-la, para dar lugar a Iris, então derrotado fragorosamente pelo povo goiano, que preferiu eleger o jovem ex-peemedebista Marconi Perillo.

     Quando o povo o rejeitou nas urnas em 1998, Iris Rezende teve a primeira oportunidade para mudar sua prática política, aceitando a democracia interna. Os democratas do partido imaginaram que a derrota seria uma lição. Ledo engano.

     Em 2002, sem coragem para enfrentar Marconi Perillo no governo, Iris foi candidato ao Senado e impôs Mauro Miranda como companheiro de chapa, por temer que um nome novo pudesse lhe prejudicar. Acabou derrotado novamente.

     Renasceu das cinzas em 2004 elegendo-se Prefeito de Goiânia, por conta da absoluta inapetência e a péssima administração do então Prefeito Pedro Wilson, do PT, e pela escolha equivocada dos demais partidos, que não apresentaram candidatos competitivos. Sua ressurreição teria sido obra Divina.

     Em 2006, mesmo estando há apenas um ano e meio na Prefeitura de Goiânia, quis ser candidato a Governador, e só não conseguiu se impor porque foram realizadas prévias no PMDB para a escolha dos candidatos majoritários -instituto estatutário que eu propusera fosse adotado já em 2002, como instrumento de democratização interna. Iris recuou na sua pretensão em 2006, mas cruzou os braços na campanha, limitando-se a subir em alguns palanques e a trabalhar pela eleição de sua mulher para a Câmara Federal.

     Reeleito prefeito em 2008, depois de expurgar seu vice, Valdivino de Oliveira, para contemplar o PT, decidiu, então, que em 2010 seria candidato a Governador, custasse o que custasse. E ontem conseguiu seu objetivo.

     Quando, há um ano, falei que Iris Rezende não deveria renunciar ao mandato de Prefeito, mas cumprir seus compromissos com Goiânia, não entregando a Prefeitura de Goiânia ao PT, sua reação foi mandar Luiz Soyer pedir a minha expulsão e a de Juarez Magalhães Jr. Quando percebeu que não nos intimidamos e nossas idéias ganhavam espaço na mídia e apoio interno, agiu para esvaziar o movimento, mandando a Executiva do partido arquivar o pedido de expulsão.

     Quando Henrique Meirelles, no ano passado, namorava o PP do Governador Alcides que o queria seu candidato, seduziu o banqueiro com a oferta da candidatura pelo PMDB, escancarando o partido para a sua pretensão, para, tempos depois, pressioná-lo a decidir-se antes de março, faltando com a palavra empenhada, como reclamou, depois, o próprio Henrique Meirelles, alijado, enfim, do processo.

     Quando antevia o rompimento entre Alcides e Marconi, mandou a bancada estadual apoiar o governo e obter migalhas do poder, imaginando atrair o PP, mas, percebendo o insucesso da empreitada, voltou a atacar o governo Alcides, poupado desde a sua posse.

     Quando a bancada federal reclamava de privilégios concedidos à sua mulher, deputada Iris Araújo, fazia ouvidos de mercador, convicto de que, por força da fidelidade partidária, eles não tinham outra saída a não ser ajoelhar-se aos seus desejos de favorecer sua mulher.

     Quando Adib Elias colocou sua pretensão de ser candidato a vice, num encontro em Catalão, não titubeou em rechaçar a pretensão do Presidente do partido sem a mínima consideração, assim como fizera com Valdivino de Oliveira, em 2008.

     Astuto, maquiavélico, frio, pragmático, Iris Rezende manobra com maestria e manipula com precisão, usando o partido, suas bancadas, lideranças e instâncias, colocando todos a seus pés. Quem não se enquadra, é colocado à margem, fritado ou na geladeira. Quem não se submete, como o Deputado Luiz Bittencourt, é torpedeado de todas as formas.

     Ao longo desses quase trinta anos, inúmeras lideranças foram alijadas do partido e da política, ou obrigadas a procurar abrigo noutras legendas. Mauro Borges foi a primeira vítima. Depois dele, vieram Henrique Santillo, Nion Albernaz, Marconi Perillo, Lúcia Vânia, Jovair Arantes, Barbosa Neto, Sandro Mabel, Antonio Faleiros e, nos municípios, centenas e centenas de militantes. Todos saíram do PMDB para outros partidos, onde então puderam disputar e vencer eleições, inclusive para o próprio Governo do Estado, e muitos, desencantados, abandonaram a política.

     Apesar de tudo, permaneceram e ainda permanecem no partido centenas de homens e mulheres de bem. Ficaram, mesmo incomodados com tanto autoritarismo, pelas mais respeitáveis razões, como as ditadas por motivos históricos e pelas necessidades impostas pelas disputas municipais, mas, principalmente, por ainda acreditarem na possibilidade de resistir e mudar, resgatando a história de lutas e a democracia interna do velho MDB.

     O partido foi definhando, perdendo quadros, avesso às mudanças e transformações exigidas pelo avanço tecnológico, distante dos organismos vivos da sociedade civil e, sobretudo, não atraindo novas lideranças. Deixou de ser um grande partido com muitos líderes e passou a ser um partido menor, com um só dono. Iris transformou o PMDB no seu partido.

     A Convenção Estadual realizada ontem, por tudo isso, significou mais uma vitória da imposição da vontade de um só homem. Mais uma vez o PMDB irá às urnas com o mesmo candidato de sempre, com as mesmas idéias e propostas atrasadas, com o mesmo velho e surrado discurso de antigamente. Mais uma vez o povo goiano perguntará: de novo o PMDB não se renova, não há outras lideranças, outros homens, outras mulheres, nesse partido?

     E mais uma vez o PMDB será derrotado, porque mais uma vez não praticou a democracia interna.

     Não vou sair do partido porque acredito que em outubro haverá mais uma lição das urnas e será tão forte, que dela surgirá mais uma oportunidade para a reconstrução do PMDB, talvez a última. Desta vez, porém, não estarei contra a vontade do povo goiano, na contramão da história.

     Não estou sozinho nessa decisão. Centenas e centenas de dirigentes e militantes do PMDB, na capital e nos municípios, apoiamos a candidatura do Senador Marconi Perillo, ex-peemedebista, não só porque o consideramos, dentre os candidatos, o único preparado para governar Goiás, mas porque enxergamos na sua vitória o marco indispensável para que o PMDB tenha a oportunidade de, após beijar o chão mais uma vez, levantar-se e erguer seus olhos e sua alma para o futuro, com democracia interna e livre dos grilhões do comando do enviado por Deus.

Ney Moura Teles é advogado, formado, em 1984, pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, da USP. É professor licenciado de Direito Penal do UniCEUB (Centro Universitário de Brasília). Ministrou as disciplinas de Direito Penal I e Direito Penal III. É autor de “Direito Penal”, publicado originalmente pela LED – Editora de Direito, e depois pela Editora Atlas, e adotado em inúmeras faculdades de Direito do país. Foi professor na Escola Superior da Magistratura do Estado de Goiás, na Escola Superior de Magistratura do Distrito Federal e no Instituto Processus, em Brasília.

Comentarios 3

  1. Anonymous disse:

    ACREDITO QUE UM DIA ISSO VAI MUDAR E QUE ESSES CASIQUES MUDE DE ESTADO POIS NAO VOU PERDER MEU VOTO DE NOVO

  2. Anonymous disse:

    O CAIS DE CAMPINAS FI INAUGURADO EM FEVEREIRO DE 2010 COM A EMERGENCIA MEDICA E O AMBULATORIO MEDICO FUNCIONANDO , E COM ISSO A PROMESSA DE QUE A ODONTOLOGIA ATE ABRIL ESTARIA FUNCIONANDO E ATE HOJE , NÃO SE TEM UMA POSIÇÃO PARA O FUNCIONAMENTO DA ODONTOLOGIA NEM AMBULATORIAL E NEM EMERGENCIA E OLHA QUE ERA PRA SER REFERENCIA ESTA ESQUECIDA

  3. Eduardo Gonçalves disse:

    Faço minhas as palavras do nobre doutrinador, que expôs com propriedade e clareza a condição política em que se encontra nosso estado.

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