Iris Rezende disse, na Rádio 730, ontem, 10 de junho de 2010, que sabe como resolver a crise CELG para salvá-la, mas não dirá como, só depois que for eleito Governador. A afirmação é gravíssima. Todos sabem que a CELG atravessa o ápice de uma crise sem precedentes, que se arrasta há alguns anos e que o governo atual não conseguiu equacionar. A solução dos seus problemas atende não só aos interesses estatais, mas, principalmente, aos de todo o povo goiano.
Terá Iris feito aquela afirmação consciente do que estava dizendo, ou a proferiu sem atinar sobre sua gravidade?
Iris Rezende já está com quase oitenta anos, dos quais mais de cinqüenta fazendo política, daí porque, não estando ainda senescente, como se me dizem, não posso aceitar que tenha falado sem pensar.
Lembrei-me, a propósito, da sua campanha para Prefeito, em 2004, quando ele também disse que sabia como resolver os problemas do trânsito e do transporte de passageiros em Goiânia e que o faria em seis meses.
Na época esse era o tema mais importante da campanha eleitoral. E foi a promessa que Iris fez – de resolver o problema do trânsito e do transporte de passageiros, sem explicar como, mas afirmando que o faria em seis meses -, a responsável por sua vitória. Na ocasião, seus adversários não cobraram explicações, nem atinaram para a força daquela afirmação do velho candidato, que surfou tranqüilamente com a proposta milagrosa e contundente, vencendo as eleições.
A idéia de Iris parece ser a mesma: usar a crise da CELG como fez com a do trânsito e do transporte em Goiânia em 2004, prometendo resolver o problema, com a única diferença de que não o fará em seis meses.
Ao afirmar que sabe como resolver, sem explicitar, todavia, a proposta, como não explicou em 2004, Iris simplesmente quer transmitir, ao eleitorado, que ele é o melhor administrador, o mais capaz, o determinado, o enviado por Deus, e que, portanto, o eleitor pode confiar nele, que ele vai resolver. Quer ainda transmitir a idéia de que, se vai resolver o problema da CELG, que é o mais complexo, os outros, menores, também vão ser solucionados. Esse é o espírito que move e sempre moveu Íris Rezende. A idéia de que ele não só é o mais capaz, mas o único capaz de tudo.
É óbvio que Iris sabe que não é enviado por Deus, mas continua repetindo isso para as pessoas e agindo como se fosse. Há quem nele acredite, por incrível que pareça. Até suas derrotas, para o Governo em 98 e para o Senado em 2002, teriam sido provações emanadas de Deus, para que ele retornasse, depois, para salvar Goiás, depois de passar pela Prefeitura e fazer a “melhor administração” de sua vida. Dias antes do prazo para a renúncia, ele revelou estar em dúvidas, e conversava, a respeito, com Deus, sobre qual caminho deveria seguir. Como acabou renunciando, dias depois, para ser candidato, transferiu a Deus a responsabilidade por sua candidatura.
É mais do que óbvio que ele sabe que não tem proposta alguma para resolver o imbróglio da CELG, mas isso pouco importa, pois o que deseja mesmo é ganhar as eleições em outubro.
Ao dizer, porém, que sabe como resolver a crise da CELG, recusando-se a ensinar o “caminho das pedras” para o Governador Alcides, Iris cometeu um erro imperdoável, e que irá contribuir muito para sua próxima derrota.
Como cidadão goiano, ex-governador, ex-prefeito, ex-parlamentar, ex-ministro, Iris tem o dever, cívico, ético e moral, de contribuir com sua experiência e com suas idéias para a solução de qualquer problema do estado, principalmente um que afete de modo grave a vida de todos os goianos. Tem essa obrigação, independente de ser ou não candidato. Se sabe o caminho, sabe-o não de agora, e, por isso, tinha e tem o dever de mostrá-lo ao Governador.
Como aliado do Governo Federal, tinha e tem o dever de contar ao próprio Presidente da República. Ao se omitir, e até confessar que vai continuar omisso, mostra que não é um político responsável. Ao usar a “solução secreta” como promessa condicionada à sua vitória em outubro, está, na verdade, chantageando o eleitorado goiano: “elejam-me, que salvarei a CELG”
Os adversários vão explorar isso na campanha e Iris será colocado numa situação muito difícil, tendo que explicar sua proposta milagrosa – que não existe, pois não existem milagres, nem muito menos para a crise da CELG – ou se desculpar pela bobagem que disse. De qualquer jeito, o estrago já está feito.
Ao trazer uma proposta contundente – de resolver um problema grave que os outros não sabem, não souberam ou não quiseram resolver antes -, Iris trouxe também, em ato falho, para o debate eleitoral, a lembrança do seu idêntico comportamento de 2004, quando também prometeu resolver em seis meses o problema do trânsito e do transporte de Goiânia, que não resolveu em cinco anos de mandato à frente da Prefeitura.
Vai ter que explicar as causas do trânsito de Goiânia permanecer um caos e do transporte de passageiros, quase seis anos depois, continuar com os mesmos e com outros problemas graves. Terá de explicar a Concorrência fraudulenta, que contemplou as mesmas quatro empresas que já operavam o sistema de transporte de Goiânia, e, também, a razão do transporte permanecer ineficiente.
E não resolverá jogar a culpa nos problemas do eixo Anhanguera, pois ele mesmo sabe que não é essa a causa dos transtornos causados, diariamente, a quase 800 mil usuários do transporte na região metropolitana. Nem adianta dizer que ônibus novos foram adquiridos, porque isso foi só uma jogada do SETRANSP, destinada a eliminar concorrentes e continuar operando o sistema. Mas este é assunto para outra postagem, especial, quando desnudarei, aqui, o golpe dado contra o povo de Goiânia e da região.
O enviado de Deus começa muito mal a pré-campanha. Se continuar assim, a tendência é Marconi ganhar no primeiro turno ou disputar o segundo com Vanderlan.
Ney Moura Teles é advogado, formado, em 1984, pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, da USP. É professor licenciado de Direito Penal do UniCEUB (Centro Universitário de Brasília). Ministrou as disciplinas de Direito Penal I e Direito Penal III. É autor de “Direito Penal”, publicado originalmente pela LED – Editora de Direito, e depois pela Editora Atlas, e adotado em inúmeras faculdades de Direito do país. Foi professor na Escola Superior da Magistratura do Estado de Goiás, na Escola Superior de Magistratura do Distrito Federal e no Instituto Processus, em Brasília.
Fique informado sobre novas notícias e aplicativos de direito penal