Na cabeça e nas mãos de Hamilton Carneiro, o marketing da campanha majoritária de 2006 nasceu fadado ao fracasso. Assessorado por um grupo de inexperientes leitores de pesquisas qualitativas, não entendeu a realidade.
A leitura que fizeram, de todas as pesquisas qualitativas e quantitativas, era a de que Marconi era imbatível para o Senado, estava blindado, e o único caminho era o de mostrar ao povo que Maguito era a melhor continuidade do tempo novo, sem, todavia, afirmar isso com todas as letras. Não é fácil esse caminho. Serra, agora, parece tentar trilhar esse rumo.
Dessa leitura, estabeleceram que o norte da campanha seria o de não confrontar com Marconi, certos de que o povo acabaria por escolher Marconi e Maguito, porque ambos significavam a modernidade em Goiás. Segundo essa leitura, Alcides não passaria dos 30%, Demóstenes minguaria, como minguou, e Barbosa Neto não passaria de 5%.
Desse pensamento decorreram diversas decisões equivocadas.
Todo o material de propaganda, impressos, adesivos, cartazes, santinhos, folders, bandeiras, foram confeccionados com destaque exclusivo para a candidatura de Maguito, deixando a do candidato ao Senado num plano absolutamente secundário, quase imperceptível, para não afrontar a vontade do eleitor de votar também em Marconi.
Antonio Lari, ex-prefeito de Caiapônia, e eu tentamos reagir, mas não tivemos força suficiente para impor outra conduta. Naquele momento eu percebi que essa era uma determinação que contava com o apoio de Maguito e que eu não tinha força para impor outro norte na campanha.
Só me restavam duas alternativas: fazer uma campanha própria, com produção exclusiva de material, montando uma estrutura de campanha, a um custo para o qual eu não tinha me preparado, ou aceitar a linha estabelecida pelo marketing. Decidi por este último caminho por duas razões: não dispunha de recursos próprios, nem capacidade de captação, para arcar com enormes despesas, e, em segundo lugar, não queria demonstrar a falta de unidade nas campanhas majoritárias, nem, pela divisão, prejudicar a performance de Maguito e vir a ser, no futuro, no caso de insucesso, responsabilizado pelo fracasso. Nessa oportunidade, cheguei à conclusão de que não teria qualquer chance de vitória sobre Marconi, nem mesmo de chegar perto, mas nem por isso abandonei o barco e trabalhei incessantemente, pela vitória de Maguito.
Na linha desse marketing desastrado, o programa eleitoral da tv e o do rádio deixaram de apresentar qualquer crítica aos governos do “tempo novo”. Nada sobre a administração Marconi no campo da saúde, da educação e da segurança pública, exceto um único programa em que se mostrou, de modo superficial, a má conservação de algumas rodovias estaduais. A idéia era a de não confrontar Marconi. Além de não fazer qualquer crítica contundente, o programa limitou-se a dizer que Maguito faria mais e melhor do que o tempo novo. O jingle principal da campanha de Maguito repetiu a idéia chave de 1994: “no Maguito eu acredito”. Um outro jingle dizia textualmente: “fazer mais do que foi feito, Maguito faz muito bem”. Em outras palavras, o PMDB cantou, nas ruas, a idéia de que o governo do tempo novo FEZ MUITO, e que apenas o Maguito faria mais. Estupidez maior, impossível. Se o tempo novo fez, por que mudar?
Ora, é evidente que um partido de oposição não poderia se apresentar como continuidade da administração. Oposição deve criticar, mostrar os erros, e apontar o caminho para a sua correção.
O programa eleitoral foi um verdadeiro desastre. Mal produzido, mal dirigido, mostrava um Maguito inseguro, tímido, repetitivo, com propostas vazias e de pura continuidade. Chegou-se ao cúmulo de repetir uma proposta absurda do Alcides de estender, até Goianira e a Senador Canedo, o eixo-anhanguera, com a tarifa de 45 centavos, que levou a Metrobus à um estado de insolvência.
Outra coisa: o PMDB de Goiás não apresentou um projeto para Goiás, até porque não tem esse projeto. Tinha um projeto de poder e nada mais.
Enfrentei um dilema no meu programa eleitoral. Muitos do partido esperavam que eu o utilizasse para confrontar o governo do tempo novo, tecendo críticas a Marconi. Meu tempo era de apenas 1 minuto e 48 segundos. A direção do programa, todavia, era contra qualquer tipo de crítica a Marconi, com o argumento, correto, de que, não estando em jogo a disputa pelo governo, não faria sentido tecer críticas à administração do Marconi. No fundo, tentavam esconder, de mim, a real intenção de não confrontar Marconi, para não prejudicar a candidatura de Maguito. Como se eu não soubesse.
Mas, ainda assim, eu pretendia fazer críticas ao candidato a Senador Marconi Perillo.Não pretendia fazer ataques pessoais, nem agressões, mas críticas respeitosas. Minhas idéias foram todas rechaçadas pelo marketing da campanha, e, para não ser no futuro acusado de ter prejudicado a performance de Maguito, aceitei a imposição.
Todas essas imposições eram apresentadas sob o manto sagrado das chamadas pesquisas qualitativas. A campanha foi dirigida pela ditadura das “qualis”, não tendo havido qualquer interferência de qualquer político na produção dos programas eleitorais, o que é de uma estupidez enorme. As pesquisas qualitativas são apenas um instrumento para a análise dos políticos. Não um conjunto de dogmas a serem seguidos. É preciso interpretar as qualitativas e os políticos devem ser chamados para essa tarefa.
Quem conhece o povo, quem tem contato com o povo, quem conhece as ruas não pode ser excluído do comando da campanha, entregue a estranhos ao partido, ao processo, às ruas, teóricos que imaginam ser donos da verdade. Na campanha de 2006 as pesquisas qualitativas ajudaram a enterrar a campanha do PMDB.
O resultado, todos viram. Marconi não só venceu com tranquilidade a eleição para o Senado e ainda conseguiu eleger seu fraco candidato a Governador.
Ney Moura Teles é advogado, formado, em 1984, pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, da USP. É professor licenciado de Direito Penal do UniCEUB (Centro Universitário de Brasília). Ministrou as disciplinas de Direito Penal I e Direito Penal III. É autor de “Direito Penal”, publicado originalmente pela LED – Editora de Direito, e depois pela Editora Atlas, e adotado em inúmeras faculdades de Direito do país. Foi professor na Escola Superior da Magistratura do Estado de Goiás, na Escola Superior de Magistratura do Distrito Federal e no Instituto Processus, em Brasília.
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