Matéria publicada no Diário da Manhã de 17.03.2013, assinada por Helton Lenine, sob o título “CORONELISMO – Quem exerceu, com mão forte, o mando do poder em Goiás”, aponta, como “coronel” de Formosa, Félix de Moura, meu pai. Nada mais falso.
Félix de Moura formou-se em Direito no Largo de São Fran
cisco, onde foi colega de Jânio Quadros e Ulysses Guimarães, dentre outros. Retornou a Goiás, em 1945, ao fim da Segunda Guerra Mundial, e ingressou na política.
Foi um dos fundadores da UDN. Não era, porém, caiadista. Abominava o autoritarismo. Seu espírito jamais foi o de um seguidor de ídolos. Nunca teve alma de conduzido. Somente foi aceito como membro do Diretório Estadual porque fundara nove diretórios municipais, todos no nordeste goiano. Engoliram-no.
Candidatou-se a deputado estadual e foi o mais votado do partido, o segundo do estado. Na Constituinte estadual, foi eleito Relator da Carta Estadual. Com Wilmar Guimarães, rompeu com o governo de Coimbra Bueno. Juntos, formaram a bancada independente. Em seguida, deixa a UDN e integra o PSD. Foi Chefe do Gabinete Civil de Pedro Ludovico. Depois Secretário de Segurança Pública, Interior e Justiça, no governo de Jonas Duarte. Nesse cargo não prosperou, acusado de agir para desmontar a máquina opressiva do ludoviquismo.
Sem espaço por não ser subserviente aos interesses do coronelismo ludoviquista, voltou para Formosa, onde dedicou-se à advocacia. Não tinha “jogo de cintura”, essencial para a sobrevivência política. No início da década de 60, foi Vereador em Formosa, na oposição ao governo municipal. No auge da ditadura militar, em 1972, sem mandato, foi para a planície da oposição, ingressando no MDB e contribuindo, decisivamente, para a vitória do oposicionista José Saad, um dos seis únicos prefeitos emedebistas eleitos, então.
Sua trajetória política foi essa. Quase sempre na oposição. Nada que lembre, nem de longe, a figura de um “coronel”. Nunca disputou eleição para o Executivo. Sempre foi tribuno da democracia. Um orador eletrizante. Destemido.
Foi, sobretudo, um advogado da pobreza de Formosa e região. Enfrentou, sim, o coronelismo, ao longo de sua vida. Desde 1945, quando na recepção aos pracinhas formosenses, atacou, duramente, a ditadura e o coronelismo, em solenidade com a presença do interventor municipal, quando rendeu homenagens à democracia e à vitória contra o nazi-fascismo nos campos da Itália, o que lhe custou, depois, um atentado praticado por um dos capangas dos coronéis. Sua convivência com a UDN foi curta e frustrada. Os ideais de democracia, que aprendera na velha Academia de Direito, não se compatibilizavam com as práticas locais. No PSD de Pedro Ludovico, igualmente, não encontrou o caminho da libertação. No MDB, foi o inspirador dos jovens. Jamais seria escolhido Prefeito, pois nunca compactuara com os conchavos e os acertos eleitoreiros. Também nunca admitiria a corrupção.
Por isso, tornou-se exclusivamente advogado, e, como tal, pode exercer a defesa dos direitos dos oprimidos e excluídos, além do sustento de sua família. Não construiu fortuna material.
Deixou um nome honrado, que não pode, jamais, ser adjetivado de coronel, nem de caiadista. Félix de Moura foi libertário e intransigente na defesa dos mais fracos, da democracia, e, sobretudo, da liberdade!
Ney Moura Teles é advogado, formado, em 1984, pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, da USP. É professor licenciado de Direito Penal do UniCEUB (Centro Universitário de Brasília). Ministrou as disciplinas de Direito Penal I e Direito Penal III. É autor de “Direito Penal”, publicado originalmente pela LED – Editora de Direito, e depois pela Editora Atlas, e adotado em inúmeras faculdades de Direito do país. Foi professor na Escola Superior da Magistratura do Estado de Goiás, na Escola Superior de Magistratura do Distrito Federal e no Instituto Processus, em Brasília.
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