Não é verdade, como estão querendo dizer alguns políticos do PMDB goiano, que o partido sai vitorioso das urnas porque Iris Rezende obteve 47% dos votos no segundo turno.
Os números que devem balizar qualquer análise sobre o desempenho de qualquer partido no pleito eleitoral são os do primeiro turno, relativamente às eleições para o governo, senado, câmara federal e assembléia legislativa. Para saber como se comportou um partido, se foi bem ou não na eleição, nada melhor do que comparar as votações que todos os seus candidatos obtiveram nas eleições de 2010 com as que receberam nas urnas de 2006, no primeiro turno. Aos números.
Em 2006, Maguito Vilela obteve 1.123.139, 41,17%. Em 2010, Iris Resende obteve 1.099.552, 36,38%, menos votos em números absolutos, com uma queda de quase 5% da votação obtida quatro anos atrás. Com um agravante: em 2010 o PMDB esteve coligado com o PT, que em 2006 não o apoiou e esteve coligado com Barbosa Neto, do PSB.
Em 2006, com uma única vaga para o Senado em disputa, enfrentando Marconi Perillo, o candidato do PMDB, este escriba, recebeu 503.203 votos, 18,74%, ao passo que neste ano, o candidato apoiado pelo PMDB, Pedro Wilson, obteve 878.910, 17,95% dos votos. Em números absolutos recebeu mais, mas, considerando-se que o eleitor podia votar em dois candidatos, deve-se observar a votação relativa. O candidato Adib Elias, cujo registro foi indeferido, por inelegível, obteve 672.983 votos, 12,08%, votação proporcionalmente bem menor que a obtida pelo candidato do PMDB em 2006. Queda de mais de 8%.
Em 2006, o PMDB obteve 670.701 votos para a Assembléia Legislativa, 23,81%, elegendo 10 deputados. Em 2010, obteve bem menos, 539.487 votos, 18,31%. Uma queda de mais de 5% da votação. Por isso, perdeu duas cadeiras no legislativo estadual, agora só 8 deputados. Outro tema, de que tratarei noutro post, é o da geografia do voto do PMDB em 2010, elegendo uma bancada estadual com quase a totalidade dos eleitos com base eleitoral na capital.
Em 2006, o PMDB obteve 763.360 votos para a Câmara Federal, 26,87%, mais de um quarto dos votos. Agora, em 2010, a votação caiu para 554.538 votos, 19,21%. Perdeu uma vaga. Agora só quatro deputados federais.
A votação obtida por Iris no segundo turno, 47%, não pode ser atribuída, exclusivamente, ao trabalho do PMDB e à liderança do candidato. Recebeu o apoio ostensivo e declarado do Governador Alcides Rodrigues, do PP, do candidato Vanderlan Cardoso, que no primeiro turno obteve 16,62% dos votos, do PR e do PSB e dos partidos menores que compuseram sua coligação.
A votação do segundo turno é a soma do esforço político de todos os partidos que o apoiaram. Aliás, revelou uma boa capacidade de transferência do grupo que apoiou Vanderlan. Por outro lado, não existe caderneta de poupança de votos, como disse alguém por aí. Votação não é capital político, pode até integrá-lo, mas não é tudo.
Os votos, lembrou Marina Silva outro dia, não pertencem aos partidos, nem a quem os recebeu nas urnas. Os votos pertencem aos eleitores. Sempre.
A força de um partido, logo após uma eleição, porém, mede-se pelas cadeiras que ganha nos parlamentos e pelos governos que vai ocupar. Seu desempenho, pelas votações recebidas. Por isso mesmo, a derrota do PMDB em 2010 é a maior de todos os tempos em Goiás. Não ganhou o governo estadual, teve suas bancadas, federal e estadual, reduzidas, não elegeu Senador, e entregou, já em abril passado, o governo da capital ao PT. Ou seja, só perdeu. Não ganhou nada. O PMDB começará, portanto, o ano de 2011 bem mais frágil, minguado e abatido. Nos últimos doze anos, só tem definhado. Foi um quadro como esse que sai das urnas de outubro que eu previ há quase dois anos e tentei mostrar ao partido, para que fosse evitado.
Ney Moura Teles é advogado, formado, em 1984, pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, da USP. É professor licenciado de Direito Penal do UniCEUB (Centro Universitário de Brasília). Ministrou as disciplinas de Direito Penal I e Direito Penal III. É autor de “Direito Penal”, publicado originalmente pela LED – Editora de Direito, e depois pela Editora Atlas, e adotado em inúmeras faculdades de Direito do país. Foi professor na Escola Superior da Magistratura do Estado de Goiás, na Escola Superior de Magistratura do Distrito Federal e no Instituto Processus, em Brasília.
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